11 de junho de 2015

LENDAS ICOENSES: OS MISTÉRIOS DO SOBRADO DO BARÃO


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Ali, vizinho à Igreja do Bonfim viveu, por mais de cinqüenta anos, Bernardo Duarte Brandão, o Barão do Crato, sua irmã dona Maria do Rosário, e muitos escravos e escravas, até 1880, quando o Barão morreu em Paris. Daí por diante, só lendas, morcegos e fantasmas, habitaram a velha edificação, até 1920, quando passou a ser habitado por gente viva novamente.

As tradições contam que o seu Dú era implacável com seus escravos e que muitos e muitas infelizes, ele pessoalmente supliciava, impiedosamente, e os torturava de forma tal, até o sangue correr, de tantas chicotadas e maltratos cruéis, que só o silêncio da história é contumaz testemunha . Dizem que muitos negros foram mortos pelos castigos aplicados pelo Barão, que os feitores enterravam no quintal do sobrado, ou nas margens arenosas do Rio Salgado, cúmplices dos assassinatos, que a lei e a fé encobriam. Não se sabe ao certo se isso era verdade ou simplesmente calúnias dos seus inimigos, que não eram poucos. Mas, a deduzir pelos terríveis tempos da escravidão, certamente era não seria o único senhor de escravos a não praticar tais perversidades contra os negros. Restaria à arqueologia moderna comprovar, ou não, esses fatos.

Ao final do século XIX pairavam, ainda, fofocas maldosas e caluniosas. Seja contra sua pessoa ou seus parentes. Uma delas era que Bernardo tentara casar-se com a própria irmã, inclusive pedindo licença à Santa Sé, fato que a história não confirma. Era uma acusação de incesto, repudiada pela sociedade. Todavia, os dois morreram solteiros e sem filhos, vivendo um eterno amor platônico, na solidão de irmãos. Ele na política e suas intrigas, e nas arengas com os Dias do Icó; ela nos bordados, nos tricôs e nas ladainhas sem fim. Dizem que dona Maria do Rosário, já com a idade avançada, vez por outra, já em Fortaleza, onde passou a morar, ia ao Cemitério São João Batista, fazer crochê ou tricô ao lado do túmulo do amado irmão. Se amor se concretizou, com essas almas gêmeas, foi somente na eternidade, após a morte de ambos, em outro plano de existência, que não podemos compreender.

A lenda mais corrente sobre o sobrado é a existência de um porão secreto e de um túnel que ligava o sobrado ao Teatro, ambos em esquinas da Rua das Almas. Ainda hoje restam resquícios de um antigo porão existente no sobrado.
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Quanto ao túnel, este foi fruto da imaginação popular. A criação dessa estória foi coisa já do século XX, mas nascida da mente dos velhos escravos, talvez até o Barão alimentasse algumas lendas sobre si. O Teatro foi construído em 1860 e o barão morreu em 19 de junho de 1880. O sobrado já tinha quase um século de existência, portanto uma e outra edificação não tinham nada a ver uma com a outra. O certo é que o porão existiu e este foi construído para guardar as riquezas, com medo de saques, inclusive saques feitos por ocasião da Confederação do Equador (1824), quanto os irmãos Alencar e seus seguidores obrigavam aos cidadãos ricos a contribuírem com pesadas taxas para a causa separatista.

O porão, na verdade, era um cubículo de mais ou menos um metro quadrado, situado abaixo do assoalho de tábua corrida, no quarto contíguo à sala de visitas imediatamente encostado à parede. Entrava-se nele por um alçapão disfarçado no tabuado. Possivelmente descia-se por alguma escada, em pé, ou talvez por uma corda. Neste caso, quem por ali descia era um escravo da confiança da família e o barão nunca esteve neste porão, sabendo somente o que deixava lá em baixo: Objetos de valor e moedas de ouro e prata, que “dariam p'ra encher uns três ou quatro pares de caçoás”.

Joaquim Ferreira (1889-1976) comprou o sobrado por volta de 1920, muito estragado, pois este estava fechado desde a morte de “Seu Dú”. Tinha a fama de mal assombrado. Tio Ferreira, era marido de minha tia-avó Odécia, ocasionalmente, quando crianças, os visitávamos, mostrava-nos o local exato do alçapão. O porão não mais existia quando ele comprou o sobrado, certamente o próprio seu Dú o mandou demolir, mas restavam pistas, tanto no madeirame, quando na tijoleira do piso do primeiro andar, onde á época (por volta de 1970/80) morava dona Joaninha, sua irmã.
Vez por outra, disse-me uma vez tia Odécia, ouvia passos no sobrado, um toque no violão que ficava por sobre o sofá de palhinhas da sala, e aqui e ali alguma badalada do sino da torre da Igreja do Senhor do Bonfim, pois o sobrado é contíguo à igreja. Certa vez, estando eu com eles, olhando da janela da sala de jantar, para uma coruja e seus filhotes, que se alojara na torre do Bonfim, o sino tocou, uma, duas badaladas... Ninguém estava por lá. Tio Ferreira olhou de rabo de olho para Tia Odécia e me levaram rapidamente, sem nada comentar, pra tomar café com bolo. Eram seis horas da tarde!

Há quem diga que ainda hoje se escutam gemidos e guizos de correntes no Sobrado do Barão. Quem passa pela calçada, perto das portas que dão para as ruas, ainda ouvem, aqui e ali essas assombrações noturnas. Há quem diga que já viu nas horas-mortas, quando as janelas estão semi-abertas, ou mesmo fechadas, às vezes uma mulher, às vezes um homem ou às vezes os dois, nos balcões, como a contemplar a Rua Larga.





PARA ENTENDER O SOBRADO E O BARÃO:




1. O Sobrado do Barão do Crato: Essa construção constitui no conjunto arquitetônico do Icó, o que mais atrai a atenção. Sobre essa construção tipicamente colonial pairam lendas e velhas estórias de assombrações e desejos proibidos. Esse imóvel pertenceu originalmente a Bernardo Duarte Brandão (Iço 15.07.1832 – Paris 19.07.1880), o 1º Barão do Crato, cujo título obteve do Imperador Pedro II. Em estilo colonial, com se janelas e respectivas portas que se abrem para o exterior, foi construído ao lado da Igreja do Bonfim, o que de já demonstra o poderio de seu proprietário. Não obstante sua aparência parecer mais antiga, foi construído no início do Século XIX. Foi abandonado por mais de meio século por seus proprietários e herdeiros, razão pela qual sua estrutura externa ter permanecido intacta, sendo adquirido pelo Telegrafista Ferreira, para sua residência familiar.







2. Bernardo Duarte Brandão, o Barão do Crato, nasceu em 15 de Julho de 1832 em Icó, Província do Ceará e morreu em Paris em 19 de Junho de 1880. Era filho de Bernardo Duarte Brandão, rico fazendeiro das terras da Ribeira dos Icós. Para alguns geneologistas essa família é de origem pernambucana, tendo como casal patriarca Bernardo Duarte Brandão (Pernambuco-1784) e Dª. Jacinta Augusta de Carvalho Brandão, igualmente natural de Pernambuco, que investiram seus recursos na compra de grandes extensões de terra e na criação do gado pelos sertões nordeste.



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